29 de outubro + Verdades Veladas +


+ Divas +

Foi por causa de uma dessas coincidências da vida que "Divas Abandonadas" (Teté Ribeiro, julho 2007), caiu no meu colo e antes de ler a sinopse e as críticas, encomendei. Queria entrar no livro com o espírito limpo, sem as opiniões de outros, queria ler e sozinha tirar minhas impressões.

Capítulo por capítulo, "Divas Abandonadas" abria um buraco no meu coração... Devorei em 10 dias ininterruptos e assim como a Constanza, "eu só parava para o que era essencial". Champagne, glamour, sofisticação e tailleurs. Divas em todos os níveis. Fora o luxo e sofisticação, muito bem descritos, diga-se de passagem, Teté conseguiu ilustrar bem todo sofrimento vivido pelas mulheres, que escondiam tudo com muita base e pó de maquiagem.

A linha fina é sugestiva: "os amores e os sofrimentos das 7 maiores divas do século XX" e por si só já remete a uma óbvia ligação entre as palavras "amor" e "sofrimento". Só por ai já dá pra sentir o que vem pela frente. Mas apesar do possível tom dramalhão do título, o que se vê são deliciosas descrições, com especial atenção para Jackie O., Maria Callas e Marilyn Monroe e o modo como os caminhos das 3 divas intercalaram-se em certo ponto de suas trajetórias.

Mas o livro traz ainda, de forma sutil e delicada, as histórias de vida de outras divas, tão incrivelmente especiais e possivelmente desconhecidas pela maioria. Uma pena, pois são realmente arrebatadoras. Ingrid Bergman, Lady Di, Tina Turner e Sylvia Plath. Os atos inconseqüentes, desesperados, as voltas por cima, os medos e tudo que elas viveram em nome de seus amores, suas carreiras, seus homens, e claro, as humilhações, desilusões e vigores perdidos a cada nova decepção.

Nem tão ao céu, nem tão ao mar. Em “Divas” a autora acertou o tom e fugiu dos fatais clichês. E o cuidado teve mesmo que ser grande, já que ao falar de amores perdidos e desilusões, é quase impossível não esbarrar nos tais chavões melódicos e descambar para o drama mexicano, mas Teté segurou a barra e descreveu tudo com o preciosismo e delicadeza necessários para criar cenários e expectativas a cada página virada.

Fácil é sentir raiva da Assia e da Camilla e nojo das amantes que Jack levava para Casa Branca; abominar o modo vil como a mídia abandona suas estrelas; sentir raiva da violência gratuita e covarde de Ted e Ike. Fácil também é entender a amargura de Callas e o silêncio de Sylvia. Mais do que primeiras-damas, princesas, poetisas, atrizes e cantoras, elas eram mulheres, amantes, amigas, mães, companheiras, confidentes e tudo ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo em que, inclusive, eram submetidas a situações desesperadoras e destrutivas.

E os atos e ações (definitivas em alguns casos), foram dos mais diversos, passando pela escolha de Jackie, que preferiu fingir não ver, ao isolamento de Diana, que foi para uma casa longe das peripécias do príncipe, passando ainda pelo cárcere de Tina, em nome da carreira e dos filhos. E há ainda as entregas de Marilyn (aos remédios) e Ingrid, ao amor, colocando quase tudo a perder.

“Divas” é assertivo e apresenta ao grande público a vida semi privada de 7 mulheres. O que chama atenção na sutileza do livro é justamente o fato de que, sim, as histórias são, (todas!) dramáticas, com direito a muitos choros, ausências, dúvidas intermináveis, traições e claro, abandonos e é aí que a autora se sobressai, já que explana os acontecimentos sem expor vulgarmente as vidas já tão reviradas destas mulheres.


+ Sylvia +

Claro, escolhi minha preferida e ao final, voltei para ler novamente seu capítulo. Sylvia Plath me encantou desde a primeira linha e fui ao google devorar tudo que podia a respeito da poetisa. Descobri o filme ( http://www.sylviamovie.com/ ) e muito mais. Alta, pálida e intensa. Óbvio que me identifiquei de cara! Mas não foram só esses fatores que me levaram a mergulhar na história de Sylvia. "Sylvia Plath integrou a geração de "poetas malditos", que produziram freneticamente ao mesmo tempo em que vivenciavam intensas agonias pessoais". Preciso falar mais alguma coisa sobre minha imediata identificação?

Ela era escritora, apaixonada e tinha uma vontade absurda de viver tudo de uma vez. Rasgava seus escritos, queimada o que lhe trazia mágoa e tristes recordações, escrevia mais e mais e rasgava e queimava mais e mais, sofria com suas agonias, transformando tudo em textos e por fim, amava Ted com a violência e intensidade dos amores juvenis e era justamente a intensidade que os tornava um casal brilhante. E bastaram 3 semanas após aquele janeiro de 56 para que Sylvia pedisse Ted em casamento.

Juntos Ted Hughes e Sylvia Plath escreviam e como disse Teté, (constatei mais tarde que era pura verdade!), não há como entender os textos dele, sem ler os dela e vice-versa. Hughes e Plath, eram complementares e essenciais, não só nos escritos e no amor, mas na intensidade com que viviam a paixão e as dores causadas por isso. Foi neste ponto em que realmente me encantei por Sylvia, seus poemas, textos e o modo como estes se amarravam aos de Ted (assim como os dele, aos dela).


+ Crise +

Enquanto Sylvia escrevia enlouquecidamente, Ted iniciava sua incursão pelas letras e foram muitos os textos mal rabiscados dele, que ela ajudou a organizar para futura publicação. E claro, veio o sucesso, dele. Graças a edição, dela. Talvez essa tenha sido a primeira decepção da escritora, mas logo o sucesso dela viria também e era assim que o casal seguia produzindo, em média 6 horas por dia, (segundo um acordo feito assim que casaram-se, 5 meses após o primeiro encontro). E era com essa mesma intensidade, misturada a uma certa raiva e desespero, que o casal se arrebentava (em todos os sentidos) na escrita, na cama, pela casa, por todos os cômodos.

Ao contrário de outras mulheres descritas no livro de Teté, Sylvia batia em Ted! E ele, revidava. Mas fora as agressões físicas (quase sempre iniciadas por ela), o que fica claro, lendo as biografias do casal, é que, o que magoava profundamente a escritora, eram as ausências e agressões verbais de Ted e até o modo como ele lidava com o trabalho dela, já que o talento da esposa ainda era recente na época, além das incertezas sentidas por ela.

Apesar do casal manter uma vida sexual bem ativa, nada impediu que Ted a traísse, abrindo assim mais uma porta de dor e mágoa no caminho de Sylvia, contudo, analisando sua morte precoce, prefiro acreditar que, assim como Zelda, não foi culpa de Ted (nem de Scott *).

(*) Em tempo, Zelda e Scott Fitzgerald são outro casal que me encanta, também pela intensidade, mas assim como Sylvia e Ted, fica difícil entender o que houve ao certo. Zelda enlouqueceu pois não suportou o alcoolismo de Scott ou Scott entregou-se a bebida por ver o esquisofrenismo de Zelda piorar mais e mais a cada dia?

Nunca saberemos ao certo porque Scott preferiu simplesmente, por diversas vezes, internar Zelda. Assim como também nunca saberemos os porquês avassaladores e definitivos que desesperaram Sylvia.

Fica em mim então uma possível conclusão: há casais que são assim mesmo, se completam, se compreendem no silêncio, se comunicam sem dizer uma única palavra, e de alguma forma imergem em seus caos particulares, transformando e moldando as dores e aflições um do outro. Mas é necessário emergir também, pois até onde sei, nem Sylvia* nem Zelda* suportaram tanto tempo.

* Sylvia Plath suicidou-se nas primeiras horas do dia 11 de fevereiro de 1963 aos 30 anos, em sua casa, Londres. Zelda Fitzgerald faleceu em 10 de março de 1948 durante um incêndio que vitimou ainda mais 8 pacientes do Hospital Highland, Asheville, Carolina do Norte.