01 de outubro + O inevitável momento +

Existem decisões que têm que ser tomadas. Geralmente por uma das partes e geralmente porque a outra parte não deixou muita escolha. Uma destas decisões é partir. Partir, sair de perto, perder de vista, ir para outro lugar, soltar a mão e partir. Seguir.

Mais do que pensar nisso e elaborar cartas fantásticas com o título: “O dia em que eu finalmente disse adeus”, é preciso agir. Colocar na cabeça que existem obstáculos intransponíveis e que não há amor grande o bastante ou suficiente, se o outro não está disposto a receber.

O amor acaba. Fatalmente acaba. As vezes do nada e quase sempre por motivos escondidos pela poeira do dia-a-dia. Geralmente alguém sofre, mas no final acaba sendo melhor, já que viver numa relação tóxica e doente é péssimo, só nos faz mal. Mas nunca enxergamos isso e sofrer com o inevitável adeus é fato para quase todos nós, meros mortais.

O amor acaba na deselegância de uma ligação não retornada, num silencio ao te ver online e não puxar papo, num tom frio de voz quando você termina de derramar uma história linda pelo telefone. O amor acaba na inércia e no egoísmo do outro. Acaba no silencio das horas frias do interminável mês de julho.


O ciclo é natural e decepcionar-se, quase sempre inevitável. Enquanto estamos envolvidos nem sequer pensamos no sofrimento que uma possível separação nos traria (1). Um dia me disseram: “ninguém tem um plano B!”. É verdade. E nos damos, nos envolvemos, somos repletos e imergimos naquela atmosfera mágica e imutável!

Até que, terrivelmente, o telefone um dia pára de tocar. De repente, assim, sem mais, o adeus inconseqüente (ƒ). Pedaços pelo chão. Ninguém nunca está preparado (+) e os dias de terror começam, sem a menor previsão de término.

Esclarecimentos sobre este início: (+) Bem possivelmente talvez ainda existam os que ainda se joguem intensamente nas paixões, sem o menor medo das quedas, conservam a pureza e envolvem-se completamente, sem medo. Tudo bem em jogar-se, até porque acredito que não de pra amar pela metade ou “só um pouquinho”..., porém, essa entrega total e plena deve ter, sim, uma medida de precaução (passei a considerar isso após alguns anos e horas com minhas amigas ao telefone).

É fato que ficamos com os pés mais atrás e vamos aos poucos... as experiências fazem as entregas serem menos afoitas e passamos a ter mais cuidado e zelo com nossos corações... Agimos com mais cautela, sem a fúria deliciosa e juvenil e assim os tombos tendem a doer menos, mas ainda doem, claro. Ficamos, sim, mais frios.

Mas entregar-se é preciso e completamente necessário, sempre e pra sempre. E isso nada tem a ver com amores mornos ou incendiários. Amores mornos são insossos e vazios, causam sempre a sensação de que há algo errado e algo faltando e isso nada tem a ver com entregas.

(ƒ) sobre o adeus inconseqüente e sem mais, aprendi que nunca são tão inconseqüentes assim e no fundo todos sabem os problemas que existiam na relação. O que acontece é que geralmente um anula mais do que o outro as coisas que preferiria não enxergar.

Retomando aos dias de terror, 1º vem a idéia de que é passageiro e o outro está confuso. Os dias passam, as conversas são amenas e não mais constantes... Tudo aquilo te soa inacreditável. A solidez era grande demais para isso ser verdade. Diante da não volta começa um leve desespero, uma angústia, as ligações pra dizer nada, as cartas, os vazios. “Como assim? O que você está fazendo com a gente? E tudo que dissemos, fizemos?”

Ainda desacreditando, você tem que se apegar a algo: a culpa. Começa a fase 2. O outro te trata como lixo e mesmo assim você ainda ama e pior: tem certeza de que a ‘culpa’ é sua. Certeza de que errou feio!! Confuso e remoendo suas ‘falhas’ vem a fase 3, que é uma das mais terríveis, pois além de triste, você agora se culpa por tudo! Show de humilhações, inconformismo, remorso, vontade de correr, voltar no tempo, mudar tudo que fez de ‘errado’. Tudo entre aspas, pois não é uma questão de erro, mas só enxergamos isso tempos depois...

O esforço é em vão. Você falou, tentou, disse que mudaria e nada... Já cansado, começa a fase 4: isolamento. Dane-se de quem foi a “culpa”, se fez tudo “errado”, já não importa. O outro não volta mesmo. Não retorna as ligações e se retorna, é frio e anos luz mais sereno do que você. Sua vontade é pedir, implorar e a humilhação da fase 3 agora retorna mais intensa. Mas já não importa. O outro não volta. Mesmo. E esta constatação te joga na cama, largado, perdido, sujo e despedaçado. Morrer dormindo seria uma ótima idéia, “mas não posso morrer!! E se ele ligar?” A mesma razão para viver te faz querer morrer.

Finalmente a luz! Não, você não morreu. São seus amigos piscando o farol e fazendo barulho em frente a sua casa. A luz também vem da luminária esquisita daquele bar estranho pra onde te arrastaram... é a fase 5. Recusar os convites começa a pegar mal. Qualquer boteco da esquina serve e seus amigos insistem. Você já está caído a um tempo e eles têm certeza de que aquela vodka com laranja será seu remédio. O corpo está lá, você até ri e interage, mas na volta pra casa, fareja a cama como um cão caçador.

É nessa fase também que, geralmente, surge a raiva. Raiva do que o outro fez com o relacionamento de vocês. Raiva pelo desprezo e frieza. Você enfim se dá conta de que há um tempo não se falam e sente raiva especialmente porque para o outro tudo segue normalmente e pior: segue bem e sem você. Você enfim nota o que para o outro já é verdade há um tempo: acabou. A raiva desembaça a visão.

A 6ª fase geralmente começa com uma dor de cabeça incrível e a ressaca parece eterna. Você acorda e percebe que há tempos não ouve aquele cd bacana daquela banda alternativa que você adora e fazer a barba ou trocar o esmalte voltou a ter sentido. Você nota enfim que já não espera tanto aquele telefonema ou e-mail.

É a calmaria. A agonia deu um tempo e a dor dissipou um pouco. Sorrir e sair de casa voltou a ter porque. As vezes o telefone toca naquela hora clássica em que vocês costumavam se falar e dá um friozinho, mas você já não olha freneticamente para o visor do celular.

Esse processo leva um pouco da nossa capacidade de amar loucamente, de nos embriagarmos, de nos deixarmos perdidos propositalmente no outro, mas sempre vai ficar a essência, os seus gostos preferidos, o prazer de se aquecer no sol, o sorriso espontâneo e a frase improvisada, meio engasgada quando aquela pessoa potencialmente interessante enfim te chama para sair.

Voltarei para falar sobre as decisões que têm que ser tomadas e sobre mais algumas coisas que pensei sobre os finais, mas no momento estou um pouco cansada e vou parar, na verdade estou cansada e psicologicamente esgotada. Falar sobre essas fases me esgotou e preciso descansar.

De tudo.