10 de outubro + Houve. Já não há +

Ele ainda me liga pra dizer aquelas coisas. Ainda procura no meu corpo as marcas que deixou com as mãos e as ausências. Ainda remexe as gavetas, ainda empilha a bagunça feita de poeira, dúvidas e doses inacabadas de adeus.


Ele não vai. Insiste em ficar aqui. Por perto. Por dentro. Acha que ainda vai, de algum modo, me ter outra vez. Talvez sinta que vai. Mas pra mim, o que ele ainda faz, agora tanto faz.

Ele ainda fala como antigamente. E sorri quando fala da gente. Fala de traumas e do "mal que me fez". Treina um pedido tardio (e sem importância) de desculpas? Ele ainda procura vestígios dele em mim. Vestígios dos silêncios cortantes, talvez. Ele ainda espera que eu caia e paga pra ver meu sorriso se abrir, mas juro... nada mais importa, o que ele faz, o que pensa ou como se comporta, juro que agora tanto faz.

Havia gosto, forma, era paupável, era quebrável. Era de comer, de beber. Subia por mim, descia, embaraçava meus cabelos, atordoava, angustiava. Era bom e ruim. Veneno e antídoto. Era um amor incondicional e a verdade chegou um dia desses: descobri que era passional.





Havia tanto em mim. Havia tanto de nós. Havia um lindo jardim. Havia mais. Havia tudo enfim. Linhas quentes de texto e vontade. Houve. Já não há.

Adeus.