27 de junho + Desabafo pra tentar passar ilesa por uma tarde infinita e quase nublada +

Cansei de ficar parada em frente gôndolas, lendo rótulos e mais rótulos que me digam afinal pra é que serve aquele produto... Não podia ser algo como: seco, oleoso ou normal? precisa de tanta definição, como: agredidos pela química, agredidos pelo secador, secos nas pontas, tingidos, descoloridos, esponjados (esponjados?), queimados de sol... Ahhhh!!! Eu só quero um produto bacana pra lavar o cabelo!

Cansei de ter que decidir, planejar, formular rotas pra fugir do trânsito e sempre (sempre!) acabar fazendo algum caminho "alternativo", porém, que alguns metros depois se mostra um verdadeiro labirinto, cheio de carros impetuosos.

Cansei do rádio. Bom amigo de todas as horas, mas que nos últimos dias tem falado demais comigo e esses sinais... esses sinais... (ãhn?) sinceramente me cansam.

Cansei de ficar com cara de "quê", abrindo e fechando gavetas imaginárias, lavando roupa suja interna; Cansei de desejar que o céu feche e depois caia sobre nossas cabeças. Cansei de brigar comigo e com o céu. Cansei de olhar pra dentro. Cansei de contar os dias e de recolher os cacos. Cansei de virar as noites e os copos. Cansei de fechar os olhos e os braços.

Cansei da malhação na minha rotina. A gente sempre vira o ano bêbado e mente pro céu: "esse ano vou ficar mais tempo com meus amigos, me dedicar a algum curso legal, comer menos bobagem, ler mais e claro, malhar mais!", eis que esse ano fui mais fundo na questão da malhação, mas as vezes não dá... e daí, claro, vem uma culpa absurda.

Aff!!!! Cansei da culpa!!! essa sim merece destaque!!! eu e minhas listas intermináveis e claro, a culpa por não conseguir realizar tudo. "Dê preferência pras prioridades!", cacete!!! tudo é prioridade!!! hellllooooo!!!

Cansei de rótulos que destacam as "baixíssimas" calorias e a ausência de gordura trans. Tá, admito que são nesses que me jogo e adoro comer sabendo exatamente quantas "pouquíssimas" calorias têm aquele iogurte, mas cansou tá legal?! Quero comer sem ter que calcular nada. E quero ficar bem com isso.

Cansei de burocracia, de papelada, de fila de espera, de formulários, de nº de protocolo, de atendimentos eletrônicos e mais ainda, de atendimentos “reais” com pessoas “finíssimas” do outro lado da linha com o incrível dom de não lhe informar absolutamente nada que tenha a ver com sua pergunta, com destaque especial pra galera que cuida de renovações de CNH, processos de cidadania italiana já em andamento e em especial pra galera que atende pelo serviço de internet e telefonia aqui da minha casa. Beijos carinhosos pra todos, ok!

Cansei de aparelhinhos que guiam nossas vidas... Celulares com câmeras de foto e vídeo, integrados à internet, rádio fm e o escambau. Checar torpedos, chamadas perdidas e e-mails é quase um ritual cabalístico pra muitos de nós. Cadê aquela delicinha que é dar uma desligada no motor pra tirar os pés do chão sem a menor culpa? Urghttt!!

Cansei de números, prazos, agendas, datas, "beba mais água", "coma menos sal", "use protetor solar" e aquela voz ordinariazinha do GPS te mandando virar, retornar e tals... (Não tenho, mas tô sempre no carro de alguém que tem e fico pas-sa-da).

Cansei muito das placas de sinalização de São Paulo! São espetaculares e admito, exemplares, porém, tem umas tais plaquinhas "fdp" que indicam "Desvio" devido à obras ou interdições. Essas plaquinhas laranjas indicam o tal "Desvio" e de repente, sem mais nem menos, somem! E lá estamos nós, num lugar inóspito, sem mais nenhuma certeza de rota!!

Cansei de me levar tão a sério. Segurar, frear, parar, contar até 10, inspirar e expirar... Urghtttt! Cadê as emoções e desenfreadas que deixam o dia mais coloridinho? Claro, ponderação é uma coisa, agora, ficar se levando a sério o tempo todo é uma chatice sem fim! Pensar em tudo, calcular, ponderar, analisar, se auto-criticar antes de tudo... Putz!! Ser adulto é um porre!! Deve ser por isso que tem tanta gente correndo pro psicólogo. Dia desses uma amiga queridíssima lançou: “Meu, fecha os olhos, pensa numa luz azul e respira”. Quase tive uma síncope e cogitei seriamente em fazer isso algum dia no carro – em movimento.

Cansei de gente fraca, gente que te suga, que tira sua energia, gente mala, gente maldosa, gente invejosa que te mede dos pés a cabeça, gente que te olha e te julga, gente que se encosta, gente carente, gente doente, gente fútil, gente grossa, gente apática. Aff!! Vai desgrudando de mim encosto!

Cansei de coisas que não tem volta, não tem conserto, não tem ajuste. Coisas que desbotam, destoam, desencantam; Cansei da vida real não ter "ctrl + z" nem plaquinha de "entre a esquerda para retornar" ;(

Cansei de futilidades, papinho, gente chata, medíocre, hipócrita, gente burra, gente mal-educada, “gente que não se respeita”, gente que se comporta muito mal, gente que trata os outros como brinquedo, gente que não pede licença, não diz por favor, obrigada e nem até logo. Gente que sai pra comprar cigarro e fica lá uns 5 anos. Gente que atravessa sinal fechado, gente que sai por aí achando que pode ir e vir, entrar e sair sem bater na porta antes (aqui escrevo no sentido literal, no sentido figurado e em todos os outros sentidos que a gramática permitir).

hmmmmmm... hoje, particularmente mais chatinha que o normal.

24 de junho + Run Baby, Run +

Eu preciso de um tempo. Preciso de um trago. Preciso de pausas. Preciso de idas. Preciso de algo amargo descendo pela garganta. Eu preciso apenas de um tempo. Preciso de um tempo. Preciso de pausas... Não, nada lento ou paralisante, nada disso! Só pausas. Simples, delicadas, caridosas, reflexivas, calmantes, relaxantes... Eu só preciso de um tempo. Preciso de um trago. Preciso de pausas. Preciso de idas. Preciso de algo muito amargo descendo pela garganta... Eu preciso de um tempo. Eu preciso muito de um tempo. Não me ame agora e deixe pra me odiar só depois que eu puder sentir tudo. Não me toque agora e deixe pra me esquecer só quando eu conseguir dizer tudo. Não tente... por favor, não tente... nem agora e nem depois de tudo. Eu preciso de um tempo. Eu preciso - mesmo - de um tempo.

14 de junho + "Os anjos têm uma visão melhor da discreta diferença entre o certo e o errado" +

Amo minha cidade. Amo desde sempre e sei que vai ser assim pra sempre. Dizem que ela é meio cinza, mas eu discordo. Tem coisas em mim que são a cara de São Paulo. Tem coisas minhas espalhadas por aí, em lugares e lembranças. Tem os parques da infância e os lugares em que morei. Tem as ruas e avenidas intermináveis por onde já me perdi e outras tantas onde já me encontrei. E claro, tem meus amigos, pessoas que tornam a vida bem menos complicada. Nem todos são daqui ou estão aqui - infelizmente. Entre eles, tem uma pessoa de quem eu gostaria de falar, em especial.

Em uma de nossas primeiras conversas - quando ainda éramos ilustres desconhecidas uma para a outra - movida por uma certa confiança, ela descreveu em detalhes uma história delicadíssima de sua vida. Movida por uma liberdade que eu não sei se já tinha, analisei, opinei, meti o bedelho e coloquei o dedo na ferida dela. De lá pra cá as confissões não pararam mais.

Rapidamente e com uma sintonia indescritível, descobrimos afinidades e conquistamos intimidade suficiente, ao ponto de conseguirmos conversar quase que por telepatia, como essa semana, por exemplo, quando eu escrevi míseras 3 linhas desconexas e ela traduziu com perfeição.

O fato é que desde que a amizade começou, de algum modo eu sabia... seríamos grandes amigas. E sinto que ela também sentiu. Não é que ela me entende. Ela compreende. Não é que ela escuta o que eu digo. Ela ouve o meu silêncio. Se for pra se retirar, ela sai. Se for pra ficar, mesmo que calada, ela fica.

Lá na janela dela bate um sol que as vezes falta aqui, na minha querida cidade cinza. Quando ela sai do trabalho, ela pode optar entre andar na calçada ou caminhar pela areia. Ela pode optar em ir pra um barzinho ou pra um quiosque beber água de coco. Quando ela está perdida, dá logo um jeito de se encontrar. Quando ela está triste, escreve coisas maravilhosas, mas quando está feliz, ela se supera. Não sei qual de nós duas escreve melhor (somos fãs assumidas uma da outra), mas isso importa muito pouco agora, já que descobrimos que seremos parceiras na escrita.

Quando ela abre um e-mail meu - quando estou meio sem sal - ela poderia ser blasé, mas é absolutamente incrível e sempre tem algo maravilhoso a dizer. E quando eu faço umas gracinhas e 'reclamo' dos vacilos dos adolescentes engravatadinhos de 35 anos, ela me mata de inveja ao dizer que os adolescentes de 35 de lá, apesar dos vacilos idênticos, pelo menos, são mais gostosos e bronzeados que os daqui.

Eu amo minha cidade, mas as vezes dá uma vontade enorme de correr pra lá... ouvir o barulho do mar, pegar uma praia, caminhar no calçadão, desacelerar um pouquinho e dizer pessoalmente o quanto ela é importante pra mim e o "quanto nossas trocas me fazem bem". Dizer o quanto ela é adorável, especialmente quando diz coisas como "(...) espero até você poder dizer".

Ela mora no Rio de Janeiro. Eu moro em São Paulo. Dizem que tem uns 420 km entre nós. Discordo totalmente.

Fê, amiga: esse é pra você.

(*) No título, a frase é de "Round Here", do Counting Crows, banda que nós duas adoramos e que embalou e inspirou o texto todo.

04 de junho + Entre no Meu carro +

Desde domingo estou em outra dimensão... cantando pelos corredores enquanto esse frio gelado bate com força. Simplesmente não dá para parar. Confesso que não me ligo muito em Roberto Carlos. Claro, a não ser por aqueles clássicos e mais que isso, situações clássicas que acabam vez ou outra te fazendo esbarrar nas letras do Rei e daí não tem jeito: render-se é o que resta.

Foi o que fiz domingo. A cada nova apresentação das cantoras no especial "Elas cantam Roberto", era um turbilhão que me assolava. Chorei feito criança e emocionei-me como há tempos não conseguia... Interpretações impecáveis, arranjos delicados e potentes e claro... letras que vão descendo pelos ouvidos e todo o resto... coisas que não sei dizer, enfim.

Infelizmente na exibição da tv Globo algumas apresentações foram cortadas, como Marina Lima, Paula Toller, Adriana Calcanhotto, Rosemary, Mart'nália e Celine Imbert. Lamentável. Nem preciso dizer o quanto isso me decepcionou. Um desrespeito com elas e com todos nós. Porém, aguardemos o DVD pobres mortais.

Amo muito a Adriana e a Marina. Muito mesmo. Porém, neste show, minha preferida sem dúvida é a Paula Toller cantando "As Curvas da Estrada de Santos". É um absurdo. Um show na interpretação, nos arranjos, na levada. Absolutamente perfeita. Eu já havia ouvido em outra oportunidade, com o Kid Abelha, mas agora me pegou de um jeito...

"Se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo, eu piso mais fundo, corrijo num segundo... Não posso parar. Eu prefiro as curvas da estrada de santos, onde eu tento esquecer... Um amor que eu tive e vi pelo espelho na distância se perder..."

Não consigo mais parar de cantar! Linda, linda, linda. A Paula e a letra. Quem puder, procure pela versão de estúdio do Kid. Vale muito a pena. Para deleite, um vídeo antigo, enquanto o DVD não sai...