31 de outubro + "Depois da última noite de chuva..." +

+ Cena 1 +

8h da manhã. Só Deus sabe o quanto ela odeia acordar cedo, mas nesse dia já estaria de pé desde as 7:30, terminando de “arrumar tudo”, como ela gosta de dizer.
Tomando seu café bem lentamente, ela, que costumava tomar seu café da manhã inquieta, pensando e planejando o dia, nesta manhã apenas tomava, despretensiosamente, sem planejar demais.

- Mãããããeeeeeeeee!!!!!! Tô pronto!!!!!!!!!

Leonardo voava escada abaixo e corria ao encontro de sua mãe, na cozinha, para engolir alguma coisa e enfim cair na estrada. Largou os pés de pato no chão e a abraçou.

- Meu filho, cuidado. Não entra na água. Lembra a vovó dos seus remédios para gripe e não saia sem agasalho no sereno, entendeu?

Do alto de seus 5 anos, o menino parecia entender muito mais as mazelas do mundo do que sua mãe.

- Entendi mã...

E antes que ele terminasse a palavra ouvia-se o carro de Fernando encostando no portão.
Leonardo correu para porta e pulou no pescoço do pai, que o ergueu e girou. Logo atrás viria Marília trazendo a mala do pequeno.

Desceu o garoto, que já corria para dentro do carro do pai, se entreter com todos aqueles botões no painel.

[Beijo no rosto]

- Oi Má.
- Oi Nando.
- Tudo bem?
- Tudo e você?
- Tudo.

[Pausa]
Havia tanto a dizer, mas era no silêncio que as palavras se encontravam.

- Nossa Má! Caprichou na bagagem, hein?! São só 4 dias!
- Fernando, escuta: ele ta assim, todo alegrinho, mas a noite passada foi daquelas! Passei a noite fazendo inalação por causa da bronquite, então, assim, não quero que ele entre na água. Esse final de gripe pode virar uma febre...
- Sim senhora!
- É sério! E outra, aí na mala tem roupa de frio, de calor e o inalador. Nessa bolsa térmica tem alguns remédios, caso precise. E nessa aqui tem uns lanchinhos que preparei pra vocês comerem na estrada.

[Fernando observa e analisa não a mãe, mas a mulher que havia por trás daquelas palavras]

- Má.... O tempo não passa para você.

Ela abaixa a cabeça e sorri, mas logo volta a realidade, enche os pulmões, ergue a cabeça e olha fixamente para Fernando na tentativa de entender aquelas palavras e dizer algo, mas ele já estava de costas, caminhando até o carro com o resto das malas do filho.

- Tchau mãe!
- Tchau meu amor!

Um abraço e um beijo apertado em Léo e ele voltaria a se entreter com os tais botões.
Fernando voltaria a porta.

- Tem certeza de que não quer vir com a gente?

[sorriso inquieto na face de Marília. Sabia que aquele convite era apenas formalidade, educação]

- Tenho Nando. Tenho sim. Obrigada. Além do mais, eu também vou viajar. Ah! Toma. É o número do chalé onde eu vou ficar no feriado. Qualquer problema com o Léo, me liga, qualquer coisa!

Marília sabia que existia celular para essas coisas! Mas por algum motivo, talvez querendo que ele soubesse onde ela estaria no feriado, lhe deu o telefone do lugar. E era óbvio que Fernando reconhecia todas as jogadas dela (e embarcava em todas, simplesmente por adorar o modo como só eles conseguiam entender tudo aquilo).

- Chalé?! Que coisa mais piegas! Você odeia essas coisas de campo e ar puro!
- Pega Nando.
- Ta! Mas me fala, quem foi a santa amiga que te convenceu a ir pra um chalé?
- To indo com o Roberto.

[Cara de desprezo em Fernando]

- Quem?
- O Roberto... cara do meu trabalho. Já te falei dele.
- Você ainda ta saindo com ele?
- Saindo não Nando. A gente ta namorando.

[Em Fernando, a cara de desaprovação de sempre, em Marília, uma dúvida tentando entender aquela situação na porta de sua casa]

Fernando queria dizer mais alguma coisa. Marília, aflita, não sabia o que pensar. Então, de testas franzidas ele inclinou a cabeça, como se tentasse analisar mais ainda aquela cena que tinha tudo pra ser normal e corriqueira. Mas seguiram sem entender.

[Silêncio]

- Vamô paaaaaiiiiiiiiii!!!!!!

A euforia e ansiedade de uma criança de 5 anos, na véspera do primeiro feriado do ano ao lado dos primos no sítio que ele tanto amava, interrompia toda cena.

+ Cena 2 +

- Quer dizer que sua mãe ta namorando?
- Tá.
- E como é esse tal de Roberto, Léo?
- Sei lá pai!

Entretido com seu MP3, Leonardo ainda era muito inocente pra entender que ele era sua única chance de fazer Fernando entender tudo aquilo. Através de Léo, Nando saberia como era o novo namorado de sua ex mulher, mas Léo estava monossilábico e não fazia idéia de como os adultos eram estranhos.

- Mas ele é um cara legal, filho?
- É. Acho que sim, pai. Desde que mamãe começou a sair com ele, a casa vive cheia de flores e ela sempre desliga o telefone com um sorriso no rosto.
- Ah é, Léo?!

Quem estava monossilábico agora era Fernando.

- É. E toda vez que eles vão sair, ela se arruma, se perfuma e parece uma princesa, igual a dos filmes. Ela sempre desce a escada e pergunta: “Filho, to bonita?” e eu sempre acho que ela está como uma princesa.

Fernando dirigia em direção ao sítio de seus pais e sua testa continuava franzida. Ouvia as palavras do filho e sabia muito bem o que ele queria dizer com “como uma princesa”.

- Pai, ele sempre liga pra ela, eles marcam e ela sobe para se arrumar. Depois ele pega ela, eles saem e ela volta feliz para casa. Porque você não faz isso? Liga pra ela, pai! Daí ela vai se arrumar como uma princesa, vocês vão se encontrar e ela vai voltar feliz pra casa!

Com um sorriso aberto, Fernando olhava o filho pelo retrovisor e admirava toda aquela inocência e simplicidade, natural de uma criança de 5 anos e rogava ao céu que aquela pureza demorasse ainda muito tempo para passar, antes que o pequeno entrasse no cruel e complicado mundo dos adultos.

- Sabe pai, eu não entendo os adultos.
- É filho... nem eu. Nem eu.

+ Cena 3 +

Sentada na varanda que dava para um conjunto de outras casas, todas germinadas, Marília terminava seu suco de laranja com vodka. Suco que ela havia aprendido a misturar, graças a vergonha que sentia em tomar vodka pura na frente do filho, então como disfarce óbvio, misturava ao suco e assim tomaria sem pudores.

Marília nunca bebia na frente de Léo e estar na varanda, mesmo com o pequeno ausente, já era sua mania preferida.

Do lado de fora, ela olhava atenta para o silencio dentro da casa. Era uma casa grande, 3 quartos, sala de jantar, de estar e cozinha bem amplos. Fernando não suportava casas pequenas e quando da separação, o casal achou por bem Marilia continuar na casa, já que em um apartamento pequeno ou numa casa térrea talvez, não poderia levar toda mobília já tão característica a tudo vivido ali.

[Olhar perdido de Marilia, atravessando a sala e fixo na porta principal, fechada]

O dia estava lindo e o céu, absurdamente convidativo. Seria mesmo um pecado seu pequeno Léo não mergulhar e era óbvio que ele entraria na água! Rindo de sua patetice enquanto mãe, lembrava da sua própria e dos conselhos tão manjados.

Ouvia pássaros ao longe e ouvia até demais. Sentada, com os joelhos recolhidos sobre seu colo, se espreguiçava e estendia uma de suas mãos em direção a grade de alumínio que a separava do jardim enquanto olhava sua pele rosada debaixo do sol. Aquele canto da casa era realmente o mais especial e Marilia amava demais o sol pra deixa-lo ali sozinho, iluminando e aquecendo uma varanda vazia. Ficava ali.

Dali 2 horas Roberto chegaria com todo feriado planejado em sua mente e ela adorava aquilo. Adorava se sentir guiada, conduzida, adorava não ter que pensar em nada e deixar que o curso se encarregasse de tudo e Roberto era prestativo, havia feito reservas, planejado e fechado o pacote 2 meses antes. Marilia só se deixava levar. Era uma segurança renovadora e estar ali era definitivamente um santo remédio as dores dos últimos tempos.

+ Cena 4 +

Ao recolher alguns brinquedos espalhados pela sala, Marília notou que havia esquecido de colocar os chinelos de Leonardo na bolsa. Imediatamente pensou em avisar Fernando.

[Léo era a razão mais não óbvia para Marilia e Fernando se falarem. Eles sempre se ligavam para saber como estava o menino, mas o mais óbvio nisso é que aquilo era só uma desculpa. Mas essa era mais uma mania estranha do casal. Aquelas coisas que os dois sabem e entendem, mas fingem que não vêem, como o ocorrido com o tal telefone do chalé]

Mas desta vez Marília não ligaria. Era fato que Fernando logo perceberia que o menino estava apenas com o tênis e logo trataria de comprar um chinelo, sandália, coisa assim. Não era necessário ligar para dizer isso, mas era ela e ela sempre fazia isso. Ligava para dizer as coisas mais banais possíveis ou só pra “avisar” algo ou “lembrar” Fernando de fazer tal coisa para o pequeno. Desculpas. E ele adorava, possivelmente até achasse normal aquilo, visto que fazia igual (não com tanta intensidade, afinal Léo morava com a mãe e como mãe Marilia era realmente ótima). Mas como ela sempre fazia e ele sabia, foi de modo estranho que Fernando encarou aquela não reação.

- Alô?
- Oi Má. É o Nando.

[Apesar do identificador de chamadas, esse era mais um ritual estranho entre eles. Eles sempre se identificavam, não importando quantos anos se passassem e nem o quão aquelas vozes fossem tão inconfundíveis a ambos]

- Oi. Tudo bem?
- Tudo. Má, você esqueceu de colocar os chinelos do Léo na bolsa!
- É eu sei! Eu percebi agora a pouco.
- Percebeu?
- Ah, percebi! Mas deduzi que sua mãe pudesse ter algum perdido no sítio, ou sei la, logo você perceberia e iria comprar algo.

[Silêncio envolto em ruídos no telefone e ruídos na cabeça de Nando]

- Nando?
- Oi Má...
- Oi, então, eu percebi, mas ai pensei que sua mãe....

[Interrupção]

- Má, você percebeu que havia esquecido de colocar algo na bolsa dele e não me ligou?
- Ah Nando! Nem pensei nisso! E pára! Eu nem sou tão neurótica assim!

[Risos]

Apesar da risada, Fernando sabia que algo estava mudando. Marília adorava bancar a mãe perfeita e eles viviam arranjando desculpas para se falar, porque agora seria diferente? Sim, era só um chinelo, mas Fernando sabia o que aquela não ligação queria dizer. Marilia estava tocando o barco e já não ligava mais desesperadamente para Fernando, a troco de nada, pra falar qualquer coisa. E aquilo o assustava.

- Má?
- Oi.
- O telefone ta no viva-voz?
- Ta.
- Tira, por favor. Você sabe que eu detesto.
- Eu to sozinha em casa, Nando.
- Má?
- Oi.
- Tira.

[Humpft! Ela pegava o aparelho e se jogava no sofá]

- Pronto.
- O fone ta perto do seu rosto?
- Sim.

[Respiração forte. Suspiros de ambos. Sim, é mais uma mania estranha... eles adoravam ficar em silencio no telefone, ouvindo um a respiração do outro, ou os suspiros, qualquer coisa. E eram naqueles silêncios que eles falavam mais do que em qualquer outro momento.]

- Paaaaaaaiiiiiiiii!!!!! Já escolhi!!!!!!!
- Má, tenho que ir. O Léo já se decidiu pela cor do chinelo.
- Tudo bem Nando.
- Um beijo.
- Beijo.

19 de maio + Trilha Perfeita +

Porque fico tanto tempo sem ouvir meus cds antigos? Que delícia ouvir Killing Moon assim, olhando a chuva minutos antes de 18 virar 19... Mas virou, sempre vira... E tudo vai ficando para trás com essa velocidade absurda...

29 de outubro + Verdades Veladas +


+ Divas +

Foi por causa de uma dessas coincidências da vida que "Divas Abandonadas" (Teté Ribeiro, julho 2007), caiu no meu colo e antes de ler a sinopse e as críticas, encomendei. Queria entrar no livro com o espírito limpo, sem as opiniões de outros, queria ler e sozinha tirar minhas impressões.

Capítulo por capítulo, "Divas Abandonadas" abria um buraco no meu coração... Devorei em 10 dias ininterruptos e assim como a Constanza, "eu só parava para o que era essencial". Champagne, glamour, sofisticação e tailleurs. Divas em todos os níveis. Fora o luxo e sofisticação, muito bem descritos, diga-se de passagem, Teté conseguiu ilustrar bem todo sofrimento vivido pelas mulheres, que escondiam tudo com muita base e pó de maquiagem.

A linha fina é sugestiva: "os amores e os sofrimentos das 7 maiores divas do século XX" e por si só já remete a uma óbvia ligação entre as palavras "amor" e "sofrimento". Só por ai já dá pra sentir o que vem pela frente. Mas apesar do possível tom dramalhão do título, o que se vê são deliciosas descrições, com especial atenção para Jackie O., Maria Callas e Marilyn Monroe e o modo como os caminhos das 3 divas intercalaram-se em certo ponto de suas trajetórias.

Mas o livro traz ainda, de forma sutil e delicada, as histórias de vida de outras divas, tão incrivelmente especiais e possivelmente desconhecidas pela maioria. Uma pena, pois são realmente arrebatadoras. Ingrid Bergman, Lady Di, Tina Turner e Sylvia Plath. Os atos inconseqüentes, desesperados, as voltas por cima, os medos e tudo que elas viveram em nome de seus amores, suas carreiras, seus homens, e claro, as humilhações, desilusões e vigores perdidos a cada nova decepção.

Nem tão ao céu, nem tão ao mar. Em “Divas” a autora acertou o tom e fugiu dos fatais clichês. E o cuidado teve mesmo que ser grande, já que ao falar de amores perdidos e desilusões, é quase impossível não esbarrar nos tais chavões melódicos e descambar para o drama mexicano, mas Teté segurou a barra e descreveu tudo com o preciosismo e delicadeza necessários para criar cenários e expectativas a cada página virada.

Fácil é sentir raiva da Assia e da Camilla e nojo das amantes que Jack levava para Casa Branca; abominar o modo vil como a mídia abandona suas estrelas; sentir raiva da violência gratuita e covarde de Ted e Ike. Fácil também é entender a amargura de Callas e o silêncio de Sylvia. Mais do que primeiras-damas, princesas, poetisas, atrizes e cantoras, elas eram mulheres, amantes, amigas, mães, companheiras, confidentes e tudo ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo em que, inclusive, eram submetidas a situações desesperadoras e destrutivas.

E os atos e ações (definitivas em alguns casos), foram dos mais diversos, passando pela escolha de Jackie, que preferiu fingir não ver, ao isolamento de Diana, que foi para uma casa longe das peripécias do príncipe, passando ainda pelo cárcere de Tina, em nome da carreira e dos filhos. E há ainda as entregas de Marilyn (aos remédios) e Ingrid, ao amor, colocando quase tudo a perder.

“Divas” é assertivo e apresenta ao grande público a vida semi privada de 7 mulheres. O que chama atenção na sutileza do livro é justamente o fato de que, sim, as histórias são, (todas!) dramáticas, com direito a muitos choros, ausências, dúvidas intermináveis, traições e claro, abandonos e é aí que a autora se sobressai, já que explana os acontecimentos sem expor vulgarmente as vidas já tão reviradas destas mulheres.


+ Sylvia +

Claro, escolhi minha preferida e ao final, voltei para ler novamente seu capítulo. Sylvia Plath me encantou desde a primeira linha e fui ao google devorar tudo que podia a respeito da poetisa. Descobri o filme ( http://www.sylviamovie.com/ ) e muito mais. Alta, pálida e intensa. Óbvio que me identifiquei de cara! Mas não foram só esses fatores que me levaram a mergulhar na história de Sylvia. "Sylvia Plath integrou a geração de "poetas malditos", que produziram freneticamente ao mesmo tempo em que vivenciavam intensas agonias pessoais". Preciso falar mais alguma coisa sobre minha imediata identificação?

Ela era escritora, apaixonada e tinha uma vontade absurda de viver tudo de uma vez. Rasgava seus escritos, queimada o que lhe trazia mágoa e tristes recordações, escrevia mais e mais e rasgava e queimava mais e mais, sofria com suas agonias, transformando tudo em textos e por fim, amava Ted com a violência e intensidade dos amores juvenis e era justamente a intensidade que os tornava um casal brilhante. E bastaram 3 semanas após aquele janeiro de 56 para que Sylvia pedisse Ted em casamento.

Juntos Ted Hughes e Sylvia Plath escreviam e como disse Teté, (constatei mais tarde que era pura verdade!), não há como entender os textos dele, sem ler os dela e vice-versa. Hughes e Plath, eram complementares e essenciais, não só nos escritos e no amor, mas na intensidade com que viviam a paixão e as dores causadas por isso. Foi neste ponto em que realmente me encantei por Sylvia, seus poemas, textos e o modo como estes se amarravam aos de Ted (assim como os dele, aos dela).


+ Crise +

Enquanto Sylvia escrevia enlouquecidamente, Ted iniciava sua incursão pelas letras e foram muitos os textos mal rabiscados dele, que ela ajudou a organizar para futura publicação. E claro, veio o sucesso, dele. Graças a edição, dela. Talvez essa tenha sido a primeira decepção da escritora, mas logo o sucesso dela viria também e era assim que o casal seguia produzindo, em média 6 horas por dia, (segundo um acordo feito assim que casaram-se, 5 meses após o primeiro encontro). E era com essa mesma intensidade, misturada a uma certa raiva e desespero, que o casal se arrebentava (em todos os sentidos) na escrita, na cama, pela casa, por todos os cômodos.

Ao contrário de outras mulheres descritas no livro de Teté, Sylvia batia em Ted! E ele, revidava. Mas fora as agressões físicas (quase sempre iniciadas por ela), o que fica claro, lendo as biografias do casal, é que, o que magoava profundamente a escritora, eram as ausências e agressões verbais de Ted e até o modo como ele lidava com o trabalho dela, já que o talento da esposa ainda era recente na época, além das incertezas sentidas por ela.

Apesar do casal manter uma vida sexual bem ativa, nada impediu que Ted a traísse, abrindo assim mais uma porta de dor e mágoa no caminho de Sylvia, contudo, analisando sua morte precoce, prefiro acreditar que, assim como Zelda, não foi culpa de Ted (nem de Scott *).

(*) Em tempo, Zelda e Scott Fitzgerald são outro casal que me encanta, também pela intensidade, mas assim como Sylvia e Ted, fica difícil entender o que houve ao certo. Zelda enlouqueceu pois não suportou o alcoolismo de Scott ou Scott entregou-se a bebida por ver o esquisofrenismo de Zelda piorar mais e mais a cada dia?

Nunca saberemos ao certo porque Scott preferiu simplesmente, por diversas vezes, internar Zelda. Assim como também nunca saberemos os porquês avassaladores e definitivos que desesperaram Sylvia.

Fica em mim então uma possível conclusão: há casais que são assim mesmo, se completam, se compreendem no silêncio, se comunicam sem dizer uma única palavra, e de alguma forma imergem em seus caos particulares, transformando e moldando as dores e aflições um do outro. Mas é necessário emergir também, pois até onde sei, nem Sylvia* nem Zelda* suportaram tanto tempo.

* Sylvia Plath suicidou-se nas primeiras horas do dia 11 de fevereiro de 1963 aos 30 anos, em sua casa, Londres. Zelda Fitzgerald faleceu em 10 de março de 1948 durante um incêndio que vitimou ainda mais 8 pacientes do Hospital Highland, Asheville, Carolina do Norte.

27 de outubro + Pecado +

Se Chico Buarque pode escrever em primeira pessoa do feminino, porque eu não posso falar comigo mesma? Onde este recurso literário estaria inserido na gramática? Não sei, mas fiz e seja o que Deus quiser!
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Camila, meu amor, meu amor incondicional, meu amor passional, queria que soubesse que me preocupo e me importo com seu coração e essas suas manias... Minha querida, respire. Olhe para frente, não saia do prumo, não saia da rota, não se deixe entorpecer.

Minha amada Camila, você é especial, mas é frágil e não está curada ainda pra sair assim, nessa friagem, com a cabeça molhada. Tome cuidado, meu anjo. Fique quieta rodeada por seus anjos, se cure, não atropele o tratamento, não saia correndo por aí sem proteção. Você me assusta querida, me assusta... pois eu te amo tanto e não suporto quando fica fora de si e se joga incondicionalmente... Camila, terei que gritar com você? Terei que te bater? Segure esse coração bobo perto de você e não saia correndo por aí sem agasalho, sem seus escudos. Clareia essa visão e enxerga Camila! Enxerga a verdade! Você precisa respirar, não pare, não agora...

Não caia meu amor, não caia. Te amo, te quero bem, te quero lúcida e sei que seu coração não suportaria outro inverno. Camila, se houvesse como te segurar em seu mundo, no que é belo e doce, no que é pleno e real, amor, eu te seguraria. Se eu pudesse filmar todos os seus sorrisos bobos e lindos, talvez você entendesse do que estou falando. Você fica linda quando sorri!!

Olha, meu bem, para seus momentos mais introspectivos, onde só há você, seus escritos e Chico Buarque inundando o quarto, lhe permito 5 minutos de choro. Lhe permito apertos inconsoláveis no peito, falta de ar. Mas não mais que isso! 5 minutos e basta! Após isso invadirei o quarto, desligarei o som, lhe tirarei os papéis das mãos e te levarei para superfície. Farei isso porque te amo demais e seu coração está frágil, está ainda em recuperação e não lhe permitirei estatela-lo no chão! Quero você refeita, de cara lavada e linda, como tem sido nos últimos tempos e como você gosta tanto de ser.

Camila, olha pra mim, me responda, porque ainda faz essas coisas? Camila, querida, não me mate de angustia, deixando que eu fique sempre assim apreensiva, sem saber quando será sua próxima queda, sem saber como se comportará amanha, sem saber se conseguirá tocar seu dia e realizar as atividades mais banais do dia a dia...

Minha querida, que de tão branca se faz boneca, ouça: Sim, é pecado. O que houve foi uma brincadeira sem graça, anjos distraídos deixando vocês se separarem. Pecado. Fez-se sem sentido este não perdoar, fez-se fogo brando aquela labareda e não foi erro querida, não foi. Por isso, não se questione mais, pois não há respostas a esse pecado.

Amor, haveria tantas ‘Bárbaras’, ‘Cecílias’ e ‘Angélicas’ quantas mais houvesse de ter, quantos anos mais, mas não haveria respostas. Haveria você Camila. Por todos os poros, cabelo, pele e colo. Haveria você, debatendo sobre todos os assuntos, rebatendo e divagando, ouvindo ou calando, segurando a barra, ouvindo os choros e gritos, sorrindo ao acordar e olhar para o lado, segurando as mãos todas as noites antes de enfim pegar no sono... Haveria você querida, haveria, mas não há. Não mais se agarre a isso, siga querida, siga. Não quero brigar com você, não quero te ver assim, não quero. Você não agüenta. São 1,78 de pura entrega e devoção, então levanta amor, levanta e olha pro espelho, olha como sua pele está corada agora. Vê? Minha branquela... rs! Vê os anjos? Então amor! Sorri de uma vez!

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Camila, Camila, Camila...
ao longe eu ouço, mas não compreendo...
Se dissesse em voz alta, se gritasse em meus ouvidos cansados,
talvez eles entendessem...
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27 de outubro + Sobre a beleza e outros efeitos +

Sobre sentir-se bonita e sorrir espontaneamente, sem muitos porquês, (parece bobagem, mas pra mim é coisa séria) além de alimentar minha alma, me mostra que o mundo está aí, repleto e que as coisas estão devidamente em seus lugares, seguindo calmamente e com a calma dos anjos, os amores e sabores continuam a encantar. E fica tudo mais gostoso, mais saboroso, mais delicado e sutil. Ando observando isso e adorando. Abrir os olhos para essas possibilidades me encanta e só me deixa cada vez mais pé no chão e bem ciente de que meu lugar no mundo é no meio do que é belo. Sim! no meio do que é rosa, claro, algodão doce e cheiro de chuva. Meu lugar é onde tudo está calmo e o amor é doce e complementar. Onde o amor é sim complementar e não atordoante. Meu lugar é onde há lugar para que eu possa amar e não um lugar onde eu precise ficar implorando para pode ficar por perto. Meu lugar é junto aos belos.

E sobre o exercício diário... Temos que deixar que o sol brilhe o suficiente para aquecer e que os corpos que queiram ficar ali, embaixo dele, fiquem e se aqueçam, sem a necessidade de mais nada. Precisamos entender e acreditar que os anjos estão todos de braços abraços prontos para adorar uma nova história..., mas é preciso ponderação e deixar que os sabores permaneçam nos lábios por longos períodos... por períodos necessários para serem absorvidos, sorvidos. Não se pode atropelar, acelerar, não se pode viver sobre a necessidade urgente de algo concreto, algo ‘acertivo’, definitivo. O sabor de hoje é pra ser vivido hoje e se amanhã não houver mais sabores, saberemos que saboreamos o que pudemos e fomos feliz. E é isso que basta.

* Trechos de um texto longuíssimo que escrevi em 24/10, ao voltar para casa. Como ficou longe demais e provavelmente subjetivo demais (ah, vá! eu subjetiva?! rsss), preferi colocar só esses pedacinhos... Aliás, que pedacinhos... depois de pronto, pensei: Nossa, como consegui traduzir tudo que meu coração estava sentindo? Daí lembrei que certa vez, há bem pouco tempo atrás, ouvi de uma pessoa a seguinte frase: "Camila, só você pra conseguir dizer essas coisas assim, tão claramente e tão certas. Só você pra conseguir dizer tudo que está sentindo, assim, de forma tão objetiva e certa". Na hora eu ri, mas talvez ele tenha razão... ou talvez sejam só ímpetos e chega de falta de modéstia! rs!!

26 de outubro + Wake Up +

Sobre uma marginal pinheiros completamente parada, eu analisava a paisagem.
A chuva - que eu tanto adoro, seus cheiros e barulhos... -
não vinha só do céu, mas também dos carros que
passavam pelas poças laterais da pista.
Enquanto eu olhava atenta para o céu e tentava ver algo além das nuves cinzas, os caminhões interrompiam meu momento com sua imponência
(pra que correr daquele jeito, especialmente em dias de chuva?).
Senti saudade do fretado e pensei novamente: "Porque perdi a hora?",
mas segui a engatar as marchas sem raciocinar muito.
Quase puta com toda situação,
(chuva, trânsito, caos e porque SP sempre pára quando chove), sorri pois
lembrei o quanto amo incondicionamente esta cidade e mais,
sorri pois lembrei que depois da chuva, sempre vem o sol.
Sempre.
E como que por milagre, algum anjo deve ter visto meu sorriso perdido dentro do carro e me mandou um presente: "starlight" começava no rádio neste exato momento...

22 de outubro + O Amor Paciente +

Porque o mundo teve que perder mulheres como a Virginia, como Sylvia, como Callas? E porque os transtornos levaram a doçura de Zelda, de Kay? Porque o mundo não soube abrigá-las adequadamente e as enlouqueceu? Porque as perdemos pro mundo insano que as rodeava e porque seus pares foram tão imprecisos a ponto de deixá-las simplesmente irem? (exceto Leonard.)

Leonard era verdadeiramente bom e paciente. Amava Virginia incondicionalmente, mesmo em seus piores momentos de crise. Compreensivo, era capaz de traduzir o mundo nefasto para sua querida, especialmente nos momentos em que ela não podia enxergar por si só. Pecado nós e Leonard termos a perdido.


“Querido,
Tenho certeza de que estou enlouquecendo de novo.
Sinto que não podemos passar por outra daquelas terríveis fases.
E desta vez não ficarei curada.
Começo a ouvir vozes, e não posso me concentrar.
Assim, estou fazendo o que me parece melhor.
Você me deu a maior felicidade possível.
Não creio que duas pessoas pudessem ser mais felizes até chegar esta doença terrível. Não consigo mais lutar.
Sei que estou estragando a sua vida e que sem mim você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Está vendo, nem consigo mais escrever adequadamente. Não consigo ler.
O que quero dizer é que devo a você toda a felicidade da minha vida.
Você foi absolutamente paciente comigo e incrivelmente bom.
Quero dizer isso — e todo mundo sabe. Se alguém pudesse me salvar, teria sido você.
Perdi tudo, menos a certeza da sua bondade. Não posso mais continuar estragando sua vida.
Não creio que duas pessoas tenham sido mais felizes do que nós fomos.”
Virginia Woolf

O amor compreende.
O amor fica ao lado.
O amor entende.
Só o amor.
Por amor permitimos que nos amem e deixamos que o amor nos cure.

"It is. It is my voice! It is mine! I am dying in this town!. . . If I were thinking clearly . . . if I were thinking clearly . . . If I were thinking clearly Leonard, I would tell you that I wrestle alone in the dark, in the deep dark, and that only I can know, only I can understand my own condition. You live with the threat - you tell me. You live with the threat of my extinction. Leonard, I live with it, too. This is my right. It is the right of every human being. I choose not the suffocating anesthetic of the suburbs, but the violent jolt of the capital. That is my choice. The meanest patient, yes, even the very lowest is allowed to have some say in the matter of her own prescription. Thereby she defines her own humanity."

19 de outubro + Varinha de Condão +

Rezo baixinho pra encontrar dentro do teu beijo a minha salvação
E prometo te entorpecer quando a noite chegar
E deixar que o meio seja nosso refúgio
Abrirei a boca aos poucos pra mergulhar em nosso mundo novo
E manterei meus olhos fechados por quanto tempo o céu precisar pra te encontrar

Deixar que a chuva fina seja apenas o choro dos anjos, ou pedras de cristais derretidas, ou ainda, litros de água corrente e colorida escoando céu abaixo, céu adentro, céu

Segure em minhas mãos e sorria

Seu sorriso é minha perdição
A chave que abre o meu coração
A verdade em forma de oração
A magia de uma varinha de condão

Sei que todo anjo tem medo, como a Isabella costuma dizer, mas eu não. Não mais.


Texto inspirado nos efeitos da pureza e céu aberto que paira sobre mim e ainda,
a inspiração clara que as palavras da Isabella me causam
É hoje!

Sim, sim, sim!

"Na alegria, felicidade vem em dobro
Eu comprei uma casinha tão modesta
Eu sei, você não liga pra essas coisas
Te darei toda a riqueza de uma vida"

18 de outubro + O Último Anjo +

Estar no meio do que é perfeito, é o divino nos mostrando que o pecado compensa
Isabella Taviani é a compilação do que é belo e preciso e estará amanhã no meio de nós
Letras e a melodias precisas
Força e naturalidade dos fortes
Graça de voz de anjos pelos altares
A um dia do show, pasmo e estremeço em minha ansiedade gélida e adolescente

"E se eu quiser gritar
Você ensurdecer
O sol cair no mar
e de frio morrer em pleno verão

Tá tão estranho aqui
Pareço desfocar o que você sorri
Por pura intuição

Se a água não correr
A lua despencar
O horizonte inteiro verticalizar
Inverter a rotação

Me traga a sua mão
Varinha de condão
Reze uma oração
Pai, filho e espírito são

Somos o meio entre o principio e fim
Fomos freio entre o bom e o ruim

Me dê o chão pra pisar
Um coração para amar
Me trate bem
Sou um anjo caído do além

Me trate bem
Todo anjo tem medo também

Ainda que eu falasse a língua dos homens,
que eu falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria"


Isabella Taviani
O Último Anjo

16 de outubro + Sylvia Plath +


Som da lucidez, agora disponível aos meus olhos
Como eu não a conheci antes?
Como nunca tinha lido nada dela antes? nada sobre ela?
Que perfeição
Que fortaleza

Têm certas coisas que são mesmo providenciais...
Aconteceu de novo...
Mais uma vez...

"Achava que não podia ser magoada"

14 de outubro + Simples perfeição +

"Pecados no paraíso"
"Parabólica"
Engenheiros
Música perfeita
Perfeita
Simples e perfeita
Perfeição que nada mais precisa pra ser divina,
além dessa doce simplicidade

11 de outubro + Holiday +


"No meio de tudo, você"









Estrada


Pôr do Sol


Brisa


Sossego

08 de outubro + Pelos Ares +

Pra ver a verdade basta olhar nos seus olhos
É através deles que agora eu vejo a vida
E ver a vida através dos seus olhos é ver de verdade
Que outras cores têm no céu, além das que eu vejo?

Há todas as cores e há toda a vida
Pois agora a vida passa lenta e tem novas cores

e porque agora
o céu é seu


O céu tem gosto de baunilha e cor de fim de tarde
e para senti-lo basta fechar os olhos e estender as mãos

estendê-las em sua direção



Cenas do filme "Amores Possíveis",
de Sandra Werneck, baseado no roteiro de Paulo Halm.
"Não importa o que o passado fez de mim.
Importa o que eu farei do que o passado fez de mim"
J.P. Sartre


04 de outubro + All this fear falls away +

"Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer

Que vejo flores em você"

"Tonight the sun shall see it's light
So what if you catch me,
where would we land?"

"Flores", Ira! e "Fair", Remy Zero

Snow Patrol
Signal Fire

"There you are, standing right in front of me,
All this fear falls away"

02 de outubro + Alívio Imediato +

"Pra ser sincero eu não espero de você

Mais do que educação,

Beijo sem paixão,

Crime sem castigo,

Aperto de mãos,

Apenas bons amigos...


Pra ser sincero eu não espero que você

Minta

Não se sinta capaz de enganar

Quem não engana a si mesmo


Um dia desses

Num desses encontros casuais

Talvez a gente se encontre

Talvez a gente encontre explicação
Um dia desses

Num desses encontros casuais

Talvez eu diga, minha amiga,

Pra ser sincero,

prazer em vê-la

Até mais..."


Trechos de "Pra ser Sincero",

Engenheiros do Hawaii

01 de outubro + O inevitável momento +

Existem decisões que têm que ser tomadas. Geralmente por uma das partes e geralmente porque a outra parte não deixou muita escolha. Uma destas decisões é partir. Partir, sair de perto, perder de vista, ir para outro lugar, soltar a mão e partir. Seguir.

Mais do que pensar nisso e elaborar cartas fantásticas com o título: “O dia em que eu finalmente disse adeus”, é preciso agir. Colocar na cabeça que existem obstáculos intransponíveis e que não há amor grande o bastante ou suficiente, se o outro não está disposto a receber.

O amor acaba. Fatalmente acaba. As vezes do nada e quase sempre por motivos escondidos pela poeira do dia-a-dia. Geralmente alguém sofre, mas no final acaba sendo melhor, já que viver numa relação tóxica e doente é péssimo, só nos faz mal. Mas nunca enxergamos isso e sofrer com o inevitável adeus é fato para quase todos nós, meros mortais.

O amor acaba na deselegância de uma ligação não retornada, num silencio ao te ver online e não puxar papo, num tom frio de voz quando você termina de derramar uma história linda pelo telefone. O amor acaba na inércia e no egoísmo do outro. Acaba no silencio das horas frias do interminável mês de julho.


O ciclo é natural e decepcionar-se, quase sempre inevitável. Enquanto estamos envolvidos nem sequer pensamos no sofrimento que uma possível separação nos traria (1). Um dia me disseram: “ninguém tem um plano B!”. É verdade. E nos damos, nos envolvemos, somos repletos e imergimos naquela atmosfera mágica e imutável!

Até que, terrivelmente, o telefone um dia pára de tocar. De repente, assim, sem mais, o adeus inconseqüente (ƒ). Pedaços pelo chão. Ninguém nunca está preparado (+) e os dias de terror começam, sem a menor previsão de término.

Esclarecimentos sobre este início: (+) Bem possivelmente talvez ainda existam os que ainda se joguem intensamente nas paixões, sem o menor medo das quedas, conservam a pureza e envolvem-se completamente, sem medo. Tudo bem em jogar-se, até porque acredito que não de pra amar pela metade ou “só um pouquinho”..., porém, essa entrega total e plena deve ter, sim, uma medida de precaução (passei a considerar isso após alguns anos e horas com minhas amigas ao telefone).

É fato que ficamos com os pés mais atrás e vamos aos poucos... as experiências fazem as entregas serem menos afoitas e passamos a ter mais cuidado e zelo com nossos corações... Agimos com mais cautela, sem a fúria deliciosa e juvenil e assim os tombos tendem a doer menos, mas ainda doem, claro. Ficamos, sim, mais frios.

Mas entregar-se é preciso e completamente necessário, sempre e pra sempre. E isso nada tem a ver com amores mornos ou incendiários. Amores mornos são insossos e vazios, causam sempre a sensação de que há algo errado e algo faltando e isso nada tem a ver com entregas.

(ƒ) sobre o adeus inconseqüente e sem mais, aprendi que nunca são tão inconseqüentes assim e no fundo todos sabem os problemas que existiam na relação. O que acontece é que geralmente um anula mais do que o outro as coisas que preferiria não enxergar.

Retomando aos dias de terror, 1º vem a idéia de que é passageiro e o outro está confuso. Os dias passam, as conversas são amenas e não mais constantes... Tudo aquilo te soa inacreditável. A solidez era grande demais para isso ser verdade. Diante da não volta começa um leve desespero, uma angústia, as ligações pra dizer nada, as cartas, os vazios. “Como assim? O que você está fazendo com a gente? E tudo que dissemos, fizemos?”

Ainda desacreditando, você tem que se apegar a algo: a culpa. Começa a fase 2. O outro te trata como lixo e mesmo assim você ainda ama e pior: tem certeza de que a ‘culpa’ é sua. Certeza de que errou feio!! Confuso e remoendo suas ‘falhas’ vem a fase 3, que é uma das mais terríveis, pois além de triste, você agora se culpa por tudo! Show de humilhações, inconformismo, remorso, vontade de correr, voltar no tempo, mudar tudo que fez de ‘errado’. Tudo entre aspas, pois não é uma questão de erro, mas só enxergamos isso tempos depois...

O esforço é em vão. Você falou, tentou, disse que mudaria e nada... Já cansado, começa a fase 4: isolamento. Dane-se de quem foi a “culpa”, se fez tudo “errado”, já não importa. O outro não volta mesmo. Não retorna as ligações e se retorna, é frio e anos luz mais sereno do que você. Sua vontade é pedir, implorar e a humilhação da fase 3 agora retorna mais intensa. Mas já não importa. O outro não volta. Mesmo. E esta constatação te joga na cama, largado, perdido, sujo e despedaçado. Morrer dormindo seria uma ótima idéia, “mas não posso morrer!! E se ele ligar?” A mesma razão para viver te faz querer morrer.

Finalmente a luz! Não, você não morreu. São seus amigos piscando o farol e fazendo barulho em frente a sua casa. A luz também vem da luminária esquisita daquele bar estranho pra onde te arrastaram... é a fase 5. Recusar os convites começa a pegar mal. Qualquer boteco da esquina serve e seus amigos insistem. Você já está caído a um tempo e eles têm certeza de que aquela vodka com laranja será seu remédio. O corpo está lá, você até ri e interage, mas na volta pra casa, fareja a cama como um cão caçador.

É nessa fase também que, geralmente, surge a raiva. Raiva do que o outro fez com o relacionamento de vocês. Raiva pelo desprezo e frieza. Você enfim se dá conta de que há um tempo não se falam e sente raiva especialmente porque para o outro tudo segue normalmente e pior: segue bem e sem você. Você enfim nota o que para o outro já é verdade há um tempo: acabou. A raiva desembaça a visão.

A 6ª fase geralmente começa com uma dor de cabeça incrível e a ressaca parece eterna. Você acorda e percebe que há tempos não ouve aquele cd bacana daquela banda alternativa que você adora e fazer a barba ou trocar o esmalte voltou a ter sentido. Você nota enfim que já não espera tanto aquele telefonema ou e-mail.

É a calmaria. A agonia deu um tempo e a dor dissipou um pouco. Sorrir e sair de casa voltou a ter porque. As vezes o telefone toca naquela hora clássica em que vocês costumavam se falar e dá um friozinho, mas você já não olha freneticamente para o visor do celular.

Esse processo leva um pouco da nossa capacidade de amar loucamente, de nos embriagarmos, de nos deixarmos perdidos propositalmente no outro, mas sempre vai ficar a essência, os seus gostos preferidos, o prazer de se aquecer no sol, o sorriso espontâneo e a frase improvisada, meio engasgada quando aquela pessoa potencialmente interessante enfim te chama para sair.

Voltarei para falar sobre as decisões que têm que ser tomadas e sobre mais algumas coisas que pensei sobre os finais, mas no momento estou um pouco cansada e vou parar, na verdade estou cansada e psicologicamente esgotada. Falar sobre essas fases me esgotou e preciso descansar.

De tudo.