20 de fevereiro + No Elevador +

Ela me diz coisas meio sem sentido e me deixa perdido,
ela quer me enlouquecer
Ela me chama no canto e enche os meus ouvidos
de coisas que eu já não quero saber

E quando o dia acaba, ela me olha de lado
e diz que é pra eu me conformar
Com o mundo errado e que é do meu lado
que agora ela resolveu ficar

Roçando a língua nos lábios ela me olha sem medo
e começa a descontrolar
Me diz que aquele estrago já estava feito
antes mesmo de a gente chegar

Ela quer me enlouquecer, me revirar, me entorpecer,
Ela tem o dom de me deixar perdido pensando onde eu deveria estar


Eu me isolo do mundo, eu mergulho no fundo dessa insensatez
De cima eu olho pro mundo, nem parece tão fundo, e lá se vai a minha lucidez

E quando ela descobre onde eu me escondi
volta e resolve me atormentar,
Se pinta toda e gruda do meu lado, dizendo que eu preciso pirar
Eu tomo mais um gole e já quase de porre eu desisto de fugir dali

Ela quer me enlouquecer, me revirar, me estremecer,
Ela quer me atrapalhar, me confundir, me ver implorar...
Perder o foco, largar o barco, me jogar...


Ela me chama de lado e diz que eu tô errado
quando eu tento me apaixonar
Ela acha estranho esse meu jeito leve de apenas deixar rolar

Mas o que ela não sabe é que agora em mim
as coisas andam todas no lugar
E daqui do meu mundo eu sei bem o que é melhor pra mim,
E o melhor mesmo é me controlar

Ela quer me enlouquecer, me desconsolar, me entorpecer
Ela acha que me conhece e que sabe bem como eu devo fazer


E quando eu me despeço, eu já vou indo embora,
ela resolve me acompanhar
Entra no elevador, desliga o meu motor
e começa a me envergonhar
Vai gritando bem alto o que ela acha de tudo e sem pudor,
sem nem se importar
Ela dispara pro mundo o seu nojo de tudo e que ali não é seu lugar

Ela quer me enlouquecer, me envergonhar, me ver corar e arrepender quando acordar
Ela acha que ali não é o meu lugar e diz pra todo mundo que eu já não sei jogar


Ela quer me descontrolar, me viciar, me arrebentar na espera
E esse jogo eu já joguei, já ganhei, já apanhei
Não foi nada ruim, mas "nem tão bom assim", nem tão fullgás

Foi algo assim sem sal, meio carnaval... com chuva
Meio cama sem par, jogo de azar, estrela... sem lua

Ela quer me enlouquecer, me derrubar, me ver chorar e adormecer sem me importar
Ela me apavora com esse jeito intenso de se entregar


Eu fico assim, meio sem saber, e eu vou deixando ela se enrolar
De minha parte o que eu devo fazer, se é só ela sabe como me entreter...
"Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar. Tô me guardando pra quando o carnaval chegar"

Quando o Carnaval Chegar
Chico Buarque

Ah... Chico!! [se todos fossem iguais a você... tantas palavras se perdem... tantas]


17 de fevereiro + Colido e Escapo +

Flores pra pedir perdão e enfeitar o seu jardim.

Provavelmente existem formas menos tortuosas de encarar certas coisas... mas a vida é mesmo um perigo e estamos todos assim, quase sempre a um passo, quase sempre a beira de um suspiro intempestivo...

Durante um bom tempo eu acreditei fielmente em anjos, até que finalmente consegui tocar as mãos de um de verdade - e era fria.

As vezes parece muito, as vezes parece menos
as vezes ficamos assim, com o coração na boca
mas existem coisas que realmente não devem ser comentadas

devem ficar ali, no cantinho, no gelo, sumindo... como coisa inacabada, como coisa de outros tempos, como coisa de outra vida... como uma daquelas horas, atrás de uma brisa com cheiro de lavanda


Das decisões difíceis...
precisa dizer mais alguma coisa?

as vezes as respostas estão justamente nas coisas que ninguém ousa dizer
(ou em letras tão intensas como a desta música)

08 de fevereiro + Tradução +

"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

Que ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio pra dar alegria"

Todo amor que houver nessa vida
Cazuza



Depois de um tempo dirigindo (um bom tempo), a troca das marchas acontece por osmose... Já os pensamentos... tudo correndo numa velocidade incrível... E no som, de repente Cazuza. Comecei a cantar, cantar, cantar... pronto.

Fiquei a noite toda cantando "todo amor que houver nessa vida". Fiquei a noite toda pensando na sorte, no amor tranquilo, no embalo da rede, no pão, na comida, no inferno, no céu, na sede, no tédio, no veneno, no mel, na melodia, na boca, na nuca...

06 de fevereiro + Na ponta dos pés +

Eu gosto das sutilezas.
Mas nem sempre é o que prefiro.
As vezes o que eu gosto mesmo é de um atrevimento discreto e elegante.
Incendiário.
Algo de que não se possa fugir.
Algo de que não se queira fugir.



"Não fosse isso /
e era menos
Não fosse tanto /
e era quase"

Paulo Leminski

04 de fevereiro + Blasé +

Ao final, afinal, achei tudo tão blasé.
Tive vontade de... depois vontade de... ah! aff!
Fez menos sentido ainda.