21 de maio + Entrelinhas +


Em mim é clara a lembrança do dia em que terminei de ler "Budapeste", romance de Chico Buarque, agora adaptado pro cinema. Na bolsa eu carregava 2 livros técnicos sobre telejornalismo e espetacularização da notícia. Ótimos, sem dúvida. Mas podiam esperar... No colo, era o romance do Chico que me acompanhava e... [suspiros] tirava meu fôlego, me levava pra Budapeste, me trazia pro Brasil, me jogava na cama da Kriska, no sofá da Vanda, no escritório (quartinho) do José... era imprevisível, mas ao mesmo tempo tinha um 'que' de verdade escancarada.

E os passos dele... todos muito bem justificáveis, mas claro, emputecedores aos olhos femininos mais revoltos. Tinha a espera velada da Vanda e a entrega fatal da Kriska... Lembro que eu estava sentada em um daqueles bancos de madeira, num corredor aberto do primeiro andar que dava pra o térreo da faculdade e dali eu podia ver aquela imensa praça de alimentação, o vaivém desordenado, um barulho infernal... nada me tocava. Nem o tumulto, nem o tímido alvoroço que ainda residia em mim devido a alguns fatos terríveis ocorridos na véspera, nem as mudanças que eu teimava em negar, também ocorridas há alguns dias dali.

Simplesmente me tomou. Me envolveu e fez o que quis de mim. Entorpeceu até meu último fio de razão. Entendi mais sobre entregas, sobre sabores, gestos, risos que a gente dá assim, simplesmente porque faz bem sentir certas coisinhas... as tais coisinhas, enfim. Sabe o que acontece quando a gente abre os braços? A gente ganha um abraço. E sabe o que acontece quando a gente fecha? Pois é... O livro me fez pensar em tantas coisas e lembro que na época foi bem bacana permitir esses tais pensamentos... Claro, sábio como sempre, justamente agora, em meados desse quase final de maio de 2009, o tempo resolveu me colocar novamente diante de todo aquele sentir...E mais uma vez, de alguma forma, amanhã Budapeste vai tocar meu coração exatamente em um momento hiper delicado. E eu vou sorrir, afinal. Sábio tempo.

Pois bem, voltando a 2004... eu, no banco de madeira... ali, imersa, pensando no quanto aquele livro havia mudado algumas das minhas concepções, aberto meus pulmões... Eu queria enxergar mais o mundo e durante alguns instantes eu jurava que podia viajar apenas com o fechar dos olhos. Falei tudo isso porque acontece ainda hoje em dia. É gostoso quando me pego exatamente nessa situação. Com esses pensamentos infinitos, tão possíveis. É gostoso quando sou permissiva comigo mesma e mergulho em paz. Quando me perdoo. Quando me dou de graça pras pequenas belezas da vida. Corro pra minha paz e nessas horas, fica tudo tão doce... E não tem imprevisto, nem desilusão anunciada que consiga me destrilhar (sic).

Budapeste é mesmo um daqueles livros que te fazem pensar: "porra! eu queria ter escrito isso!". E Chico Buarque... sem palavras. Pra nossa sorte, a partir de amanhã, em um cinema bem pertinho de todos nós! E pelo que andei lendo, vai valer muito a pena!!