+ Sorte ou Réves +

08 de julho

Quando éramos crianças e tudo era indiscutivelmente mais fácil, a sorte era decidida em um simples jogar de dados. Andávamos as tais casinhas e lá estávamos nós diante das famigeradas cartinhas de cor laranja... Sorte ou Réves são os nomes das cartas do Banco Imobiliário, brinquedo clássico da Estrela, que fez a alegria de muitas crianças por tardes a fio.

Só que no mundo adulto, real, nada é tão bonitinho como as casinhas e bairros vizinhos no tabuleiro do querido "Banco". Aqui tem trânsito, gente se xingando no trânsito... tem a sorte e a réves batendo a toda hora em nossos ombros e nos deixando assim... com cara de "que?".

A sensação que eu tenho é de que sempre estou buscando, procurando, me arrumando pra algo... indo ver algo, indo atrás, ligando, pensando, jogando, escrevendo, dizendo... e sempre para alguém... Como se as consequências daqueles meus atos na direção dos outros pudessem de algum modo respingar em retorno para mim.

No "Banco", jogávamos os dados e andávamos. Era um jogar e um andar e pronto. Erámos nós fazendo coisas por nós para nosso benefício. Agora, sinto o contrário. Me sinto distante de mim mesma. Como se eu estivesse jogando e não andando. É como se o jogar de dados da minha vida adulta fosse um jogar rezando para que caia na casinha certa e naquela casinha alguém venha empurrar minha cadeira de rodas ou ligar meu balão de oxigênio...

Parece que não é mais algo por mim, mas sempre uma falta de ar, uma busca, um balão de oxigênio bombeando ar de forma descordenada, desordenada e eu, desesperada tentando inalar. Sorte ou Réves para o dia de hoje? Não sei dizer. A vida passa rápido demais e as vezes jogar os dados fica tão complicado... Direcionar os pinos na direção certa então, nem se fala...