01 de setembro + Desdoçura +

Saí da exposição com uma constatação pesando em mim. Notei como solto e absorvo, como colido e escapo, e por fim, como lido com rompimentos. Todos eles. Lido de forma lenta, como se eu precisasse de tempos particulares para isso.

Minutos com mais de 60 segundos. Dias com bem menos de 24 horas. Tempos da Camila.

Talvez isso aconteça pela dificuldade que tenho em mergulhar em novas realidades. Talvez seja por isso que eu descole lentamente os pedaços de quem está partindo e mesmo quando sou eu quem procura a separação, o desenlace é sofrido. Os pedaços custam a desencaixar de mim.

Desde que saí da exposição tem um choro parado entre minha garganta e meus olhos. Não entra nem escoa. Não desce. Não lava nem alivia. Não derrama. Deve ser reflexo da coisa toda errada que andou remexendo minhas falidas gavetas intocáveis. Intocáveis.... Mentira!! Claro que são totalmente tocáveis! São felpudas, macias e acolhedoras!! Eu adoro sair por aí dizendo que sou uma fortaleza, mas minhas gavetas são facilmente reviráveis e as lembranças... poços e poças.

E ao deparar com meus avessos, encontro os restos do que meus rompimentos causaram em mim. Estão todos ali. Imperfeitos. Cortes e cicatrizes. Igualmente parados naquele ponto intraduzível da percepção.

Romper qualquer tipo de laço carrega em si uma dose de "desdoçura" tão grande que torna amargo e "inabsorvível" os tais "nunca deixarei de amar você", o "jamais morrerá" ou o "se estenderá em mim", dizeres, aliás, que compõem a carta recebida pela Sophie.

Romper é desistir do outro. E não há jeito "certo" de fazer isso. Essa desistência é a forma mais rápida que certas pessoas (eu, inclusive) encontram pra lidar com seus sinais internos, com coisas que não entendem em si mesmas. E saimos por aí rompendo o - muitas vezes injustificável - não mais sentir.

Diante de uma situação de término na qual sou deixada e não mais querida por aquele coração de quem eu era devota, minha sensação é algo como se estivesse sem casa, sem habitat, sem animais da mesma espécie, sem bando, sem matilha.

Como se eu esquecesse que posso ser porto, casa, amparo, braços, colo e abrigo e acreditasse nos poucos talentos que aquela desolação me permite exalar e exibir, enquanto fico ali, em luto.

Sinto como se as caixas fossem enormes e eu, pequena. Como se meu grito fosse infantil e como se minha porção mulher tivesse agora algo de frígida, algo de vidro arranhado. Sinto tremores e descompassos. Sinto qualquer coisa do tipo pós-furação. Casa "inarrumável"... restando apenas mudar-se dali, portanto...