26 de março + O sono dos anjos +

Abri o livro na inútil tentativa de fugir de mim e de meus pensamentos, que apontavam todos para o recente ocorrido. Impossível.

Comecei lendo os agradecimentos, que eu adoro, mas as vozes estavam altas demais dentro de mim e eu só conseguia pensar mais, abominar mais, indignar-me mais. Até que cheguei no delicado momento em que, mais do que pensar e repudiar, eu estava a um passo de deixar que aquela história me ferisse.

Nesse ponto encarei de frente os fatos, olhei fixo pra dentro e vi coisas quebradas, rasgadas os fragmentos mal passados. Sim, eu estava a um passo de começar a sofrer com aquilo.

Voltei os olhos para o livro. Me deparei - pela segunda vez - com uma frase e fui salva. Pelas mãos de Hosseini veio o "eu vou amar você para sempre", dedicado a sua Roya.

Claro como água me vi novamente diante do que por tantas vezes já estive, mas fugi. Esse tal, pra sempre. A verdade imutável de que amores são ternos e eternos de tempos em tempos me assombra. Fica comigo um tempo e também por vezes, me deixa. Perco a crença “nessas bobagens” por um tempo, mas rapidamente volto a minha essência e vejo tudo ali, todo meu deslavado romantismo e crença total nos amores eternos e puros. No meu amor. No quanto posso ser e fazer por alguém.

E foi só por causa dessa frase tão linda que eu pude me concentrar e segurar “na unha”; não permitir que “aquele” recente ocorrido me ferisse. Os espinhos estão todos por aí, cabe a nós, mais do que desviar, arranca-los de nossos jardins.

Espero apenas, sinceramente, ter forças para não odiá-lo. Não por ele, que não merece nem meu ódio, mas por mim, afinal, preciso seguir em paz e odiá-lo levaria um tempo a mais, que honestamente, não tenho mais.

Juro. Juro que procurei mil formas de fazer isso; rondei meus sentimentos, ignorei o quanto as mágoas me feriram, quis não ser drástica, mas não tem jeito. Só há um modo de fazer isso. Só há um modo de encerrar os ciclos. Encerrando.